domingo, 27 de junho de 2010

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Como em uma profecia apocalíptica, os mais exagerados decretaram o fim próximo do Flash. A polêmica cresceu em torno da tecnologia para suporte multimídia, utilizada em construção de vídeos, imagens, animações e banners para web. A discussão tomou fôlego depois que Steve Jobs, proprietário da Apple, condenou o uso do Flash e enumerou, em uma carta aberta no site da empresa, os motivos pelos quais seus dispositivos móveis não são compatíveis com Flash. Além do iPhone, o Ipad, o mais novo queridinho da Apple, não tem suporte para a tradicional tecnologia. E para esquentar ainda mais as discussões, a adoção dos novos padrões abertos da web, como o HTML5, na opinião de alguns (Steve Jobs entre eles), deverá substituir o Flash em breve. Mas será que os profissionais da área acreditam nessa previsão?

A morte do Flash foi tema da última Quinta Digital do semestre, evento periódico que discute questões de tecnologia.Com argumentos semelhantes, os profissionais que participaram do debate foram unânimes em afirmar que o Flash não vai acabar. Caio César, professor, consultor e pesquisador em marketing, usabilidade, comunicação e tecnologia e trabalhando há 14 anos na área, diz que gostaria que a tecnologia ficasse restrita a apresentações no ambiente corporativo. “Não gosto dela para fazer sites, pois não segue padrão, não favorece em sistemas de busca, mas, apesar disso, é uma multiplataforma e tem seu espaço”, comenta. Para ele, sites como o YouTube poderiam migrar para concorrentes, mas não seria algo estratégico, pois poderia acarretar a perda de milhões usuários. Isso, porque o Flash hoje roda em 97% das máquinas do mundo.

É difícil falar em vantagens e desvantagens do software. Segundo Alexandre Estanislau, sócio diretor de criação da Bolt, o importante é a função que você dá ao programa. “Você tem de saber onde usá-lo. Ele é ideal para trabalhar a interatividade com o usuário, mas é um sistema pesado para algumas aplicações, como a construção de um site com muito conteúdo”, explica. E sobre a briga de Steve Jobs ele acrescenta: “Uma empresa tentar ditar como usar a internet é muito arrogante”, diz.

O mesmo pensa Marlos Carlos, sócio da agência 5clicks. Para ele, há uma subutilização do Flash e do HTML. “Você tem de planejar antes de fazer um site. O Flash não concorre com o HTML5. Existem coisas ideais para um e para outro. O Flash é recomendado para hot sites”, justifica. Segundo Marlos, diversas tecnologias surgiram e nenhuma desbancou o Flash, como a Silverlight da Microsoft. “Ou elas conquistaram um público diferente ou nem conseguiram permanecer no mercado”, detalha.

O Flash conquistou, ao longo dos últimos anos, o título de padrão quando se pensa em software de animação web. Segundo o ilustrador e programador Antônio Júnior, muitos clientes exigem que seu site seja todo desenvolvido em Flash. “Mas a tecnologia está sendo melhor empregada. Antes havia aqueles sites com introdução em Flash. Hoje, ele está sendo usado para o que realmente foi criado: interatividade.”

Eduardo Loureiro, coordenador de Experiência do Usuário da Mapa Digital, acredita que o Flash vai sair perdendo nessa briga entre Apple e Adobe. “A venda do iPad está muito grande (segundo a Apple, mais de 3 milhões de unidades haviam sido comercializadas até a última segunda-feira, 80 dias após seu lançamento). A princípio será ruim, porque o Flash vai aos poucos deixar de ser suporte para diversos sites. Mas a longo prazo a Adobe contorna o problema”, diz.

“O Flash trouxe multimídia para internet, tornando-a mais interativa. Por agora, com o cenário atual, a tecnologia não acaba. Mas em tecnologia nada é impossível. É só preciso tempo”, complementa Marlos Carlos.